Chamou a atenção, na semana passada, uma publicação do CEO da Cacau Show, Alexandre Costa, comemorando junto com sua equipe de funcionários, a primeira exportação de produtos para os Estados Unidos. O momento foi muito celebrado e, de fato, deve ser, porque abre a possibilidade da colocação dos produtos em um novo mercado, ampliando as possibilidades de receita da empresa.
Essa experiência de internacionalização dos produtos é sempre desafiadora, por ser um novo ambiente de negócios, com um comportamento de mercado diferente daquele ao qual a empresa está acostumada e, também, com novos concorrentes.
Nesse artigo, vamos discutir, a partir dessa experiência da Cacau Show, quais são os principais desafios enfrentados pelas empresas, de uma maneira geral, em seus processos de expansão internacional.
A marca Cacau Show
A Cacau Show é uma empresa brasileira, líder na produção e venda de chocolates finos, com mais de 2.000 lojas espalhadas por todas as regiões do Brasil.
Em 2021, a empresa atingiu a meta de inaugurar 500 novas lojas no Brasil e continuou com seu plano de expansão da marca, com investimentos de mais de R$ 100 milhões, em 2022, para a abertura de novas lojas e a estratégia de internacionalização do negócio.
Segundo seu presidente e fundador, Alexandre Costa, a Cacau Show fechou 2021 com um faturamento de R$ 2,9 bilhões. Esse resultado foi 45% superior ao do ano anterior e superou em cerca de 20% o resultado de 2019, período anterior à pandemia da Covid-19, que trouxe uma série de impactos aos negócios das empresas no mercado brasileiro.
No início da pandemia, a Cacau Show precisou rever seu projeto de expansão. Em 2020, ela iniciou a operação de pouco mais de 100 novas lojas, resultado inferior ao do ano anterior. Porém, em 2021, houve uma retomada de sua expansão, que fez com que fosse alcançada a marca de mais de 2.000 lojas no país.
Recentemente, Alexandre Costa divulgou, em suas redes sociais, que a empresa alcançou o primeiro lugar do ranking das maiores redes de franquia do Brasil, em 2023. Segundo a ABF (Associação Brasileira de Franchising), a Cacau Show alcançou pela primeira vez essa posição, superando outras grandes marcas como O Boticário e a rede de fast-food Mc Donald’s.
Além de tudo isso, a Cacau Show comemora sua expansão internacional, com a exportação de chocolates para o mercado norte-americano. Nas palavras do CEO Alexandre Costa, em suas redes sociais:
Hj foi um dia muito especial pra gente! Primeira exportação de nossa Cacauzinha, ainda mais para os EUA. Nos espera mundão!!! A gente tá chegando!!! Cheio de amor, de energia e de deliciosos Chocolates!!!
Alexandre Costa, em seu perfil do LinkedIn.
Benefícios e Desafios da internacionalização de produtos
O processo de internacionalização de produtos traz uma série de benefícios às empresas. O mais imediato é a possibilidade de comercialização em novos mercados, ampliando seu portfólio de clientes e, consequentemente, suas receitas. Isso se torna ainda mais significativo quando os produtos da empresa encontrarem pouca ou nenhuma concorrência no novo mercado, por serem novidade ou inovadores.
Um outro benefício decorrente da participação em novos mercados é a possibilidade de aprendizado de novos processos e ferramentas que podem, inclusive, vir a ser incorporados às operações da empresa em seu país. Um exemplo disso foi o que aconteceu com a CEMEX, empresa mexicana da indústria de cimentos, que ao iniciar seu processo de internacionalização na década de 80, instituiu um programa que chamou de CEMEX WAY. Através desse programa, a medida em que a empresa expandia seus negócios para outros países, ela incorporava as melhores práticas que tomava conhecimento, estabelecendo como um processo único para seus negócios em todo o mundo. Dessa forma, além da adoção de práticas reconhecidamente favoráveis ao negócio, a empresa padronizava sua atuação em todos os mercados. Esse estudo de caso é analisado em nosso curso sobre Logística integrada na cadeia de suprimentos.
Uma grande experiência, também, decorre do conhecimento adquirido pela empresa a partir de sua atuação em novos mercados, que pode trazer grandes contribuições em relação ao desenvolvimento de seus produtos. Novos mercados e culturas, geralmente, trazem ideias e soluções, decorrentes das novas experiências de consumo, que podem ser aplicadas no desenvolvimento de um produto. Com isso, a empresa pode implementar essas inovações em outros mercados em que participa, contribuindo para a diferenciação de seus produtos e o aumento de participação nesses mercados.
Apesar de todos esses benefícios, existem também alguns desafios para os quais as empresas devem estar preparadas, buscando identificá-los de forma a que possa adotar medidas visando reduzir seus impactos nos resultados do negócio.
Um dos principais desafios é a adaptação dos produtos ao novo mercado. No caso da Cacau Show, que atua no ramo alimentício, a empresa precisa entender as preferências e os hábitos alimentares de cada país, para adaptar seus produtos e torná-los atraentes para os seus novos consumidores. Isso inclui a adaptação de sabores, tamanhos de embalagens, preços e até mesmo o formato dos produtos. Considerando que alguns países têm hábitos alimentares bem específicos, com produtos regionais muitas vezes exóticos, as empresas que trabalham na indústria alimentícia devem procurar criar sabores de produtos, utilizando, por exemplo, frutas e bebidas regionais, visando cativar os mercados com produtos personalizados.
Outro desafio é a concorrência em mercados estrangeiros. A empresa vai enfrentar concorrentes locais e globais em cada país em que opera. Algumas empresas locais podem ter uma vantagem em termos de conhecimento do mercado e da cultura local, enquanto as empresas globais têm mais recursos e poder de negociação com fornecedores e parceiros de distribuição. Nesses casos, é preciso desenvolver estratégias de marketing e vendas eficazes para se destacar nesses mercados. O estudo do comportamento da concorrência é um grande aliado na definição das estratégias a serem utilizadas, quando se tem pouca experiência em relação aos hábitos do mercado em que começa a atuar.
A logística e a cadeia de suprimentos também são desafios significativos na internacionalização de produtos. As empresas precisam garantir que seus produtos sejam entregues aos clientes em tempo hábil e com qualidade consistente, independentemente do país em que estão atuando. Isso requer uma cadeia de suprimentos bem gerenciada e parceiros de distribuição confiáveis. Além disso, a empresa precisa lidar com questões regulatórias, como requisitos de importação e exportação, regulamentações sanitárias e de embalagem, que podem significar grandes custos às suas operações.
A gestão cultural, também, é um desafio importante na internacionalização de produtos. Sim, é importante porque a empresa precisa ter uma compreensão profunda da cultura, das tradições e dos valores de cada país em que atua, para garantir que seus produtos sejam adequados e respeitem as crenças locais. Isso inclui, por exemplo, a adaptação da comunicação e do marketing, para evitar mal-entendidos ou ofensas culturais, que podem acontecer por uso inadequado de materiais de divulgação que ofendam a cultura do país. Além disso, a empresa precisa saber como lidar com seus funcionários locais, em questões como hábitos de trabalho e horários. Em alguns países a rotina de horários é diferenciada, com períodos de interrupção entre os turnos da manhã e da tarde, os quais a empresa deverá respeitar.
Por fim, é necessário, também, que a empresa apresente uma estratégia financeira sólida para a internacionalização de seus produtos. Ela precisa investir em pesquisa e desenvolvimento, marketing, logística e na cadeia de suprimentos, para ter sucesso em mercados estrangeiros. Ao mesmo tempo, a empresa precisa gerenciar os custos e garantir a rentabilidade de suas operações internacionais. Deve ser considerado aqui, também, a legislação tributária do país em que inicia a operação. Algumas leis podem estabelecer determinadas restrições que dificultem a entrada da empresa no mercado, normalmente através de barreiras que são criadas para proteger a produção local.
Conclusão
Concluindo, a expansão internacional é, sim, motivo de muita comemoração, por representar a possibilidade de crescimento da produção visando o atendimento desses novos mercados. Contribui, também, para o crescimento da marca que se torna conhecida em outros países. Os ganhos incluem, ainda, a possibilidade de adoção de novas práticas empresariais, a partir da experiência com a atuação internacional.
Apesar disso, alguns cuidados devem ser adotados a partir da decisão de expandir seus negócios mundo afora. É um erro a empresa achar que basta aplicar as práticas já consagradas em seu país em outros mercados. Algumas podem até trazer bons resultados, mas é necessário estudar e conhecer o mercado que vai atuar, avaliando seus hábitos, culturas, os produtos já comercializados que podem vir a ser seus concorrentes, além de possíveis barreiras estabelecidas pela legislação local, visando a proteção daquele mercado.
Fazendo bem essa lição de casa, certamente o processo de internacionalização abrirá novas possibilidades para as empresas, que terão ganhos financeiros e empresariais em diferentes níveis de seus processos.
Referências
ABF. Estudo da ABF retrata as 50 Maiores Redes de Franquia por Unidades no Brasil e traz novo líder. Disponível em: https://www.abf.com.br/estudo-abf-retrata-50-maiores/. Acesso em 27 fev. 23.
COSTA, Alexandre. Perfil do LinkedIn. Disponível em: https://www.linkedin.com/in/alecacaushow/. Acesso em 24 fev. 23.
ISTO É DINHEIRO. Com 28 mil lojas Cacau Show mira expansão internacional. Disponível em: https://www.istoedinheiro.com.br/com-28-mil-lojas-cacau-show-mira-expansao-internacional/. Acesso em 26 fev. 23.
