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Transporte aquaviário de cargas: terceiro modal mais utilizado no país

O transporte aquaviário de cargas é o terceiro maior modal de transporte no Brasil, responsável por aproximadamente 13,5% da movimentação de cargas, segundo dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT), perdendo para o modal rodoviário e ferroviário.

No entanto, assim como para os demais modais, há vários benefícios na utilização do transporte aquaviário de cargas, principalmente se considerarmos a possibilidade do transporte de um grande volume de cargas, de diferentes tipos, contribuindo, assim, para a redução do custo unitário desse transporte.

O transporte marítimo é o principal responsável pelas operações de importação e exportação de produtos, sendo os navios projetados especificamente para atender aos diferentes requisitos das cargas a serem transportadas.

Nessa publicação, abordaremos os principais tipos de transporte aquaviário, as cargas transportadas, a infraestrutura no país, além dos custos, benefícios e restrições de utilização desse modal de transporte.

Tipos e características do transporte aquaviário de cargas

O transporte aquaviário de cargas tem como principal característica a utilização de oceanos, mares, rios, lagos e lagoas como meio para movimentação de cargas entre portos localizados nos pontos de origem e destino.

Assim, o transporte aquaviário de cargas pode ser classificado, considerando o meio utilizado para transporte da carga, em marítimo, fluvial ou lacustre. O transporte marítimo é o que utiliza os mares e oceanos como meio de transporte da carga, normalmente realizada através de navios de diferentes tamanhos, em função das características de navegação e da quantidade de carga a ser transportada.

O transporte marítimo, por sua vez, pode ser realizado através da navegação de longo curso ou de cabotagem. A navegação de longo curso é aquela que, em geral, cruza os oceanos nas operações de importação ou exportação de cargas do Brasil, levando ou trazendo produtos entre diferentes países. Já a navegação de cabotagem une portos do país, seja utilizando os mares ou até mesmo rios, quando estes forem capazes de receber o porte da embarcação. A navegação de cabotagem é muito utilizada no Brasil, por exemplo, para o transporte marítimo de petróleo e seus derivados ao longo da costa brasileira.

O transporte fluvial, por sua vez, utiliza os rios como meio de navegação para levar a carga de um ponto a outro. Em geral, utilizada barcos ou balsas para essa finalidade. No entanto, em alguns rios de maior dimensão, como os que temos na Bacia Amazônica, podem ser utilizados navios para esse transporte.

Já o transporte lacustre é aquele onde o transporte de cargas é realizado em lagos ou lagoas. Aqui também o tipo de equipamento utilizado para o transporte vai depender das dimensões e profundidade, que podem incluir barcos, balsas ou navios de menor porte, em geral.

Que cargas podem ser transportadas no modal aquaviário?

Vários tipos de cargas podem ser transportados através do transporte aquaviário de cargas, destacando-se: petróleo e seus derivados, grãos, cargas vivas, veículos, minérios e cargas diversas transportadas em containers.

Naturalmente, diferentes tipos de carga requerem diferentes tipos de embarcações, para atender às necessidades do transporte. Sobre esse assunto, sugerimos a leitura da publicação “A influência da natureza da carga na seleção do modal de transporte” do nosso blog. Assim, há também diversos tipos de navios, que têm estruturas capazes de movimentar essas diferentes cargas.

Consideremos os navios graneleiros utilizados para o transporte aquaviário de cargas a granéis, como grãos, minérios e carvão. Esses navios apresentam compartimentos retangulares (porões) onde é possível carregar e descarregar as cargas sem a necessidade de contagem ou utilização de embalagens especiais.

Navio realiza carregamento de pelotas de minério de ferro. Fonte: Capixaba News.

Já os navios petroleiros são utilizados não apenas para o transporte de petróleo, mas também de seus derivados líquidos. O equilíbrio da carga armazenada nos tanques ao longo do navio é obtido a partir da movimentação das cargas através de tubulações localizadas no convés do navio. Uma outra característica importante nesses navios é que apresentam casco duplo, para maior segurança contra vazamentos, e normalmente são menos fundos, permitindo a navegação em alguns rios de maior profundidade.

Em função do tipo de carga transportada, os navios petroleiros podem ser classificados em navios de produtos claros ou de produtos escuros. Essa divisão é necessária para evitar riscos de contaminação das cargas por remanescentes nas linhas dos navios após as operações.

O convés de um petroleiro é composto por tubulações para carga e descarga dos produtos dos tanques do navio.

Para o transporte dos derivados gasosos do petróleo, como o Gás Liquefeito do Petróleo (GLP), Gás Natural Liquefeito (GNL) além de outros gases como etileno, propileno e amônia são utilizados os navios gaseiros. A grande característica desses navios é que os tanques têm formato arredondados no convés principal. Isso porque os produtos são em geral, pressurizados, e esse formato é mais adequado ao armazenamento desses gases sob pressão.

O formato dos tanques dos navios gaseiros é adequado ao transporte de produtos pressurizados.

Os navios porta-containers são especialmente projetados para o transporte de cargas acondicionadas em containers. Os containers são embarcados e desembarcados através de guindastes, normalmente nos portos, já que a maioria dos navios desse tipo não têm guindastes próprios em sua estrutura. Praticamente todos, hoje em dia, têm dispositivos elétricos para transportar containers frigoríficos, onde o controle da temperatura é fundamental para garantir a integridade da carga. Há porta-containers com capacidade para transportar até 15.000 containers, sendo os maiores desse tipo.

Os navios porta-containers conseguem transportar diferentes tipos de cargas, acondicionadas em containers, inclusive os frigoríficos.

Para o transporte de veículos são utilizados os navios porta-veículos também conhecidos como navios Ro-Ro (roll on – roll off). Esses navios são projetados para o transporte de qualquer tipo de carga que se movimente sobre suas próprias rodas ou algum equipamento sobre rodas que possa transportá-la. Nós poderíamos dizer que os navios ro-ro são como garagens que flutuam.

Projetados para transporte de veículos, os navios Ro-Ro são verdadeiros estacionamentos flutuantes.

Há ainda os navios para carga viva, com rampas para embarcar os animais e currais no seu interior onde ficam individualmente os animais. Esse tipo de navio é muito utilizado para exportação de animais para alguns países.

Embarque de bois no porto de Imbituba, em Santa Catarina. Fonte: Portos e Navios

No transporte fluvial e lacustre normalmente são utilizados barcos ou balsas, com o objetivo de transportar as cargas. De menor dimensão, são mais limitados em relação ao tipo de carga que podem transportar. Especificamente para o transporte de petróleo e derivados, podem ser utilizadas balsas tanques que têm tanques capazes de transportar o produto.

Há ainda uma outra forma de transporte de cargas, nas operações chamadas de apoio portuário e apoio marítimo. Nesse caso, normalmente se utilizam barcos para transporte de cargas para suprimento dos navios ou plataformas de produção de petróleo, transporte de equipamentos ou apoio às operações dos navios. No caso do abastecimento de navios, balsas transportam o óleo combustível marítimo para abastecimento dos navios, quando atracados fora do porto.

As operações dos navios são suportadas por barcos de apoio marítimo.

Infraestrutura do transporte aquaviário de cargas no Brasil

Segundo dados do anuário CNT do Transporte, em 2021, a movimentação total de cargas no modal aquaviário foi de 1.214 milhões de toneladas, sendo quase 70% na navegação de longo curso, 23,8% na navegação por cabotagem e 5,4% na navegação interior. Os apoios marítimo e portuário foram responsáveis, juntos, por apenas 0,3% da carga transportada.

Considerando o tipo de carga, do total movimentado em 2021, 58% foram granéis sólidos, 26% granéis líquidos e gasosos, 11% carga em contêiners e 5% carga geral.

Do total de carga movimentada, 66% foram em terminais de uso privado e 34% em portos organizados. Os três terminais de uso privado que mais movimentaram cargas, em 2021, foram o Terminal Marítimo de Ponta da Madeira (MA), responsável por 23% das operações em terminais de uso privado, seguido pelos Terminais de Tubarão (ES) e Terminal Aquaviário de Angra dos Reis (RJ), cada um com 8% da movimentação.

Das operações realizadas em portos organizados, os três que registraram mais operações foram o Porto de Santos (SP), com 28%, e os Portos de Itaguaí (RJ) e Paranaguá (PR), cada um com 13% das movimentações.

Na navegação interior, o Brasil tem um enorme potencial hidroviário, contando com aproximadamente 63.000 mil quilômetros de rios navegáveis em 12 bacias hidrográficas.

Custos no transporte aquaviário de cargas

Apesar dos custos fixos e variáveis do transporte marítimo serem elevados, como é possível transportar uma grande quantidade de carga, isso faz com que o custo unitário do transporte seja mais baixo, quando comparada a outros modais de transporte.

No caso do transporte por navegação interior, isso se torna ainda mais evidente em função dos menores custos fixos quando comparados aos navios.

Uma grande preocupação, em relação aos fretes marítimos, está na quantidade de taxas e sobretaxas que podem ser cobradas, encarecendo o transporte. É importante conhecer essas taxas pois impactam diretamente o frete de acordo com as características da carga a ser transportada.

Além da taxa de frete básico, outras podem ser adicionadas como a taxa adicional de porto, quando a carga é desembarcada em um porto que ainda não é o seu destino final, precisando ser novamente embarcada, ou a taxa de volumes de grandes dimensões ou sobretaxa de congestionamento no porto.

No Brasil, existe ainda um custo adicional chamado de Adicional de Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) sendo aplicado nas operações internacionais, impactando os custos e, muitas vezes, desestimulando tais operações.

Por que usar o transporte aquaviário de cargas?

Feitas essas considerações a respeito do transporte aquaviário de cargas, vamos agora analisar os benefícios e eventuais restrições de utilização desse modal de transporte no Brasil.

A primeira vantagem a ser considerada na adoção do transporte aquaviário de cargas é a possibilidade de transporte de um grande volume de cargas de diferentes tipos. Esse é, sem dúvida, um diferencial desse transporte. Em um mesmo navio de combustível, por exemplo, pode-se transportar gasolina, querosene de aviação e óleo diesel, facilitando toda a logística de distribuição desses produtos ao longo da costa brasileira. Ao mesmo tempo, ao ser possível transportar uma grande quantidade de carga, reduz-se o custo unitário do transporte.

Uma segunda vantagem está relacionada com a segurança da carga. Como vimos acima, os navios são projetados para atender às diferentes características das cargas a serem transportadas, o que confere uma maior segurança na garantia da integridade das cargas.

Algumas restrições também podem ser relacionadas ao transporte aquaviário de cargas e a primeira é a sua própria natureza. Esse tipo de navegação está restrito à realização em mares, oceanos, rios, lagos e lagoas, esses últimos desde que tenham profundidade suficiente para a operação das embarcações.

No caso dos rios essa situação pode ainda ser agravada pelo fato de que nem todos são navegáveis em toda a sua extensão, em função da existência de quedas d´água ou pelo fato de não serem navegáveis em todo o período do ano por causa dos períodos de seca comuns em algumas bacias hidrográficas.

O modal aquaviário exige também a existência de portos ou terminais para recebimento das embarcações e carregamento ou descarregamento das mercadorias, limitando a que tais operações sejam realizadas exclusivamente nesses locais.

De qualquer forma, o modal aquaviário tem um grande potencial de utilização, sendo o principal meio nas operações de importação e exportação de produtos do Brasil.

Referências

CAPIXABA NEWS. Finalmente: navio realiza carregamento de pelotas de minério de ferro no Porto de Ubu, em Anchieta. Publicado em 10 jan. 2021. Acesso em 01 mai. 2023.

CNT. Anuário CNT do Transporte 2022.

PORTOS E NAVIOS. Porto de Imbituba exporta mais de 3.500 bois vivos para a Turquia. Publicado em 09 set. 2019. Acesso em 01 mai. 2023.

WILSON SONS. Tipos de navios: saiba quando contratar cada um. Publicado em 03 set. 2019. Acesso em 01 mai. 2023.

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