O acidente ocorrido em Beirute, na semana passada, onde a explosão de 2.750 toneladas de nitrato de amônio destruiu grande parte da capital libanesa, trouxe à discussão os riscos associados ao armazenamento e movimentação de cargas perigosas.
As causas da explosão ainda estão sob investigação das autoridades libanesas. O que se sabe é que o nitrato de amônio estava armazenado desde 2013, quando o produto havia sido retirado de uma embarcação. O navio russo, que transportava o produto, apresentou avarias durante a viagem e acabou atracando em Beirute.
A embarcação foi abandonada pelos seus donos, pois as autoridades libanesas não autorizaram o prosseguimento da viagem. A carga perigosa foi, então, armazenada no armazém, que acabou explodindo no acidente da semana passada.
O nitrato de amônio é uma substância utilizada na indústria de fertilizantes, por ser uma fonte de nitrogênio, mas também na produção de explosivos e bombas. É um sal de aspecto granulado, na cor branca, e sem odor. Em condições normais de temperatura, o produto não é explosivo, mas ele se decompõe a temperaturas mais elevadas, tornando-se altamente explosivo quando aquecido a mais de 300oC.
O acidente trouxe à discussão os riscos que estão associados ao transporte e armazenamento de cargas perigosas. Quais são os perigos associados e de que forma podem ser controlados?
Cargas Perigosas
Existem diferentes tipos de cargas perigosas. Cada uma, em função de suas características, apresenta diferentes riscos à saúde, à segurança e ao meio ambiente.
Os principais tipos de cargas perigosas são:
- Explosivos, que apresentam a capacidade de gerar gás e energia quando submetidos a algum tipo de transformação química;
- Inflamáveis, que podem ser gases, líquidos ou sólidos que entrem em combustão sob determinadas condições de temperatura e pressão.
- Substância tóxicas, que são nocivas seja por inalação, contato ou ingestão;
- Produtos sujeitos à combustão espontânea, que podem entrar em combustão por aquecimento espontâneo e em contato com o ar;
- Oxidantes, que podem atuar como fornecedores de oxigênio para uma combustão. Alguns tipos também trazem uma série de problemas de saúde;
- Material radioativo, que pode liberar energia sob forma de radiação;
- Substâncias corrosivas, responsáveis por processos corrosivos em materiais e até mesmo tecidos vivos (pele);
- Outras substâncias perigosas, que podem provocar diversos outros tipos de perigo.
Os riscos associados a essas substâncias são de diferentes naturezas e, por isso, necessitam de cuidados específicos tanto nas operações de armazenamento, quanto no seu transporte.
Armazenamento de cargas perigosas
É importante estar atento aos riscos que podem estar associados ao armazenamento de cargas perigosas. Esses riscos são de diversas naturezas, por isso, a sinalização é fundamental para que as equipes tenham conhecimento sobre os procedimentos que devem ser adotados durante a guarda do produto.
Alguns controles são muito importantes, como por exemplo., o que se refere à rede elétrica das instalações de armazenamento de produtos perigosos que deve ser à prova de explosões, por exemplo.
Além disso, é importante o controle sobre as pessoas que circulam pelos armazéns. Em alguns casos, podem ser utilizados detectores de substâncias tóxicas, que alertem quanto ao risco de circulação por ambientes onde possa ocorrer algum tipo de vazamento.
Há produtos que podem sofrer alterações químicas devido ao aquecimento. Dessa forma, deve-se evitar, entre outros fatores, a insolação direta sobre o produto armazenado além de uma ventilação que permita evitar o aquecimento do local e também a exaustão de gases.
Transporte de cargas perigosas
O transporte de cargas perigosas, no Brasil, é regulado através de legislação específica, sendo responsabilidade da ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre) a sua fiscalização. A Resolução no 5.232, de 14 de dezembro de 2016, estabeleceu requisitos para o transporte terrestre de produtos perigosos.
Um dos principais requisitos é que os veículos que transportam cargas perigosas tenham afixado símbolos e placas indicativas dos produtos transportados.
Esse apelo visual é importante pois identifica a todos no entorno do veículo que se trata de carga perigosa em circulação, além de facilitar o trabalho de fiscalização pelos órgãos competentes.
Um outro cuidado importante é que toda a carga transportada deve ser acompanhada de documentação, dentre as quais, licenças de operação de viagens, ficha de emergência do produto transportado e documentação fiscal. Além disso, deve ser acompanhada de documentação do motorista e do veículo, incluindo o certificado de inspeção para transporte de produtos perigosos a granel (CIPP).
Todos esses cuidados visam garantir a adequada circulação das cargas perigosas pelas estradas brasileiras, considerando o alto risco associado, por exemplo, em acidentes com os veículos transportadores. Já discutimos em nosso blog, de que forma a natureza da carga influencia o seu transporte.
Documentação, Procedimentos e Treinamentos
Não se pode negar que qualquer operação logística tem associado um risco inerente à sua natureza. Ocorre que, em se tratando de cargas perigosas, esse risco pode ser ainda maior, causando danos irreversíveis, tanto ao meio ambiente quanto ao ser humano.
Daí que tais tipos de operação são cercadas de um maior número de requisitos, visando evitar que tais danos venham a ocorrer.
A documentação da carga é prevista como forma de garantir um maior controle sobre as operações, seja para quem está sendo responsável pelo transporte, seja para o órgão regulador responsável pela fiscalização. As informações constantes de tais documentos visam alertar sobre os riscos associados, além de indicarem, em alguns casos, como agir em emergências.
Os procedimentos estabelecidos, tanto para as etapas de armazenamento como para o transporte, são fundamentais para garantir que sejam realizados de forma segura, considerando as diferentes características dos produtos. Por exemplo, não fumar em ambientes com produtos explosivos é uma forma de evitar que a chama do cigarro possa ser responsável pela combustão dos gases de produtos. Esse é apenas um dos muitos cuidados necessários na movimentação de produtos perigosos. Lembrando ainda que também estão incluídas as operações de carga, transbordo e descarga.
Por fim o treinamento das equipes envolvidas vem fornecer a essas as informações necessárias para o melhor desempenho de suas funções e a prevenção de acidentes. Esses, muitas vezes podem ser evitados, através de medidas simples, que precisam ser do conhecimento de todos os envolvidos para evitar a ocorrência de acidentes que possam prejudicar parcial ou totalmente a vida dos envolvidos nas operações.
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REFERÊNCIAS:
ANTT. Agência Nacional de Transporte Terrestre.
JORNAL DA GAZETA. Mega explosão atinge zona portuária do Líbano. YouTube. 04 de Agosto de 2020.